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quinta-feira, 14 de abril de 2011

MENSAGENS DE PAULO COELHO NO G1.COM

A EXPERIENCIA E O GESTO.

Encontro Colin Wilson, hoje um autor inglês consagrado, no festival de Melbourne, Austrália. Conhecendo o tema de meu novo livro, ele me relembra um texto que escreveu, relatando sua tentativa de suicídio aos 16 anos:
“Entrei no laboratório de química da escola, e peguei o vidro de veneno. Coloquei num copo diante de mim, olhei bastante, reparei na cor, e imaginei o possível gosto que teria. Então aproximei o ácido de meu rosto, e senti seu cheiro; neste momento, minha mente deu um salto até o futuro – e eu podia senti-lo queimando a minha garganta, abrindo um buraco no meu estômago”.
“Fiquei alguns momentos segurando o copo em minhas mãos, saboreando a possibilidade da morte, até pensar comigo mesmo: se sou valente para me matar de forma tão dolorosa, também sou valente para continuar vivendo”.

*Qua, 13/04/2011.

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O SUFI HAFIK E A BUSCA ESPIRITUAL

Em um dos seus raros escritos, o sábio sufi Hafik comenta a busca espiritual.
“Aceite com sabedoria o fato de que o Caminho está cheio de contradições. Há momento de alegria e desespero, confiança e falta de fé. Assim como o coração cresce e se encolhe para continuar batendo, o Caminho muitas vezes nega-se a si mesmo, para estimular o viajante a descobrir o que existe além da próxima curva”.
“Se dois companheiros de jornada estão seguindo o mesmo método, isto significa que um deles está na pista falsa. Porque não há fórmulas para se atingir a verdade do Caminho, e cada um precisa correr os riscos de seus próprios passos”.
“Só os ignorantes procuram imitar o comportamento dos outros. Os homens inteligentes não perdem seu tempo com isto, e desenvolvem suas habilidades pessoais; sabem que não existem duas folhas iguais numa floresta de cem mil árvores. Não existem duas viagens iguais no mesmo Caminho”.

* Terça, 12/04/2011.

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CONVERSAS E LUTAS COM DEUS

Em um dos meus livros, “O monte cinco”, o personagem principal rebela-se contra os desígnios de Deus, e não quer mais escutá-lo.
Inspirei-me em uma passagem bíblica, quando Jacó luta com Deus dentro de uma tenda, e só o deixa partir depois que Ele o abençoa.
Da mesma maneira que um jovem sadio precisa ter uma dose de rebelião necessária para enfrentar-se com seus pais e impor sua lenda pessoal, Deus também deseja que exerçamos, a cada minuto de nossas vidas, o poder de nossas decisões.
É muito fácil ficar transferindo a responsabilidade para os outros (e para Ele), só para depois culparmos o mundo pela injustiça a nossa volta, e o fracasso dentro de nós.
Mas aonde isto nos leva? A lugar nenhum.
Deus nos escuta. Deus nos leva a sério. Vale a pena relembrar aqui um outro episódio bíblico onde esta faculdade está claramente descrita:
No livro do Gênesis (18:22-33), o Todo Poderoso resolve avisar a Abraão que irá destruir Sodoma e Gomorra. Abraão não aceita: por que os inocentes devem ser sacrificados junto com os pecadores?
Abraão vai mais além. Diz: “como ousa o Senhor fazer tal coisa, matar o justo junto com o ímpio?”
E exige que Deus se comprometa a não destruir a cidade, se ali viverem cinquenta justos. Deus se compromete. Abraão começa a barganhar, dizendo que seria absurdo, caso faltassem apenas cinco para formar cinquenta justos, que Ele tomasse tal decisão.
Deus aceita não destruir a cidade se ali viverem quarenta e cinco justos, ou trinta, ou vinte, ou dez… Deus aceita cada um dos argumentos de Abraão, e vai prometendo mudar de ideia.
Sabemos que, na Bíblia, Deus termina destruindo Sodoma e Gomorra, salvando apenas uma família. Mas, antes de tomar esta decisão, Ele estava aberto ao diálogo.
Temer a Deus não significa ter medo de Deus. Deus está muito mais aberto para uma conversa do que imaginamos; é só começar o diálogo, e ficaremos surpresos com os resultados.

* Segunda, 11/04/2011.

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MOHANDAS GANDHI DIANTE DA IGREJA

Em sua autobiografia, Mohandas Gandhi conta que, durante seu período de estudante na África do Sul, interessou-se pelos Evangelhos, e chegou a considerar seriamente a possibilidade de converter-se ao catolicismo.
Para obter maiores conhecimentos, resolveu ir até a igreja do bairro onde morava. Ali chegando, um homem lhe perguntou:
“O que deseja?”
“Assistir a uma missa”, respondeu Gandhi. “E pedir alguma ajuda de Deus”.
Gentilmente, o homem lhe disse:
“Por favor, vá até a igreja que se encontra a dois quarteirões daqui. Esta é só para brancos”.
Nunca mais Gandhi retornou a uma igreja.

* Domingo, 10/04/2011.

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O SIGNIFICADO DAS VESPERAS

Em São Francisco, nos Estados Unidos, caminho por um parque com meu editor americano, John Loudon, e sua mulher, Sharon. Podemos ver a cidade ao longe, iluminada pelo sol poente. Sharon escreveu um livro sobre um mosteiro beneditino, e conta que as orações da tarde, chamadas “vésperas”, são cantos de esperança pela certeza de que a noite passará.
-As vésperas nos indicam a necessidade que temos de nos aproximar do outro, quando a noite chega – diz ela. – Mas nossa sociedade esqueceu a importância desta aproximação, e finge prezar muito a capacidade que cada um tem de lidar com as próprias dificuldades. Não rezamos mais juntos; escondemos nossa solidão como se fosse vergonhoso admiti-la.
Sharon faz uma pausa, e conclui:
-Já fui assim. Até que um dia perdi o medo de depender do próximo, porque descobri que ele também estava precisando de mim.

* Sabado, 09/04/2011.

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